Em Portugal apenas uma em cada três viaturas roubadas são recuperadas, mas o fenómeno afeta toda a Europa. Criminosos roubam e vendem carros com mais organização e sofisticação do que nunca.
O número de carros roubados que as autoridades portuguesas conseguem recuperar é cada vez menor, revela o Jornal de Notícias, graças a um aumento da ‘profissionalização’ do furto e tráfico de automóveis por parte de grupos de crime organizado. Segundo o JN, em Portugal apenas uma em cada três viaturas roubadas são recuperadas pela GNR e PSP, mas o fenómeno está a acontecer por toda a Europa.
A sofisticação de técnicas de roubo por parte das organizações criminosas, que viciam documentos, números de chassis e usam tecnologias facilmente acessíveis online para ultrapassar as seguranças da viatura, está a preocupar a Europol, o Serviço Europeu de Polícia. As máfias usam chaves virgens, aparelhos de codificação de chaves que reprogramam os códigos das centralinas para pôr o carro a andar e ‘jammers’ que bloqueiam sinais de comunicação que permitem localizar a viatura. Alguns roubos são feitos por encomenda, pelo que as organizações criminosas chegam mesmo a fazer ‘homejacking’, ou seja, a roubar os carros dentro da casa dos donos. Técnicas como o ‘carjacking’ ou o uso de reboque continuam a ser utilizadas.
Estes carros roubados passam “pelo Estreito de Gibraltar e por portos portugueses, espanhóis e de outros países europeus“, disse ao JN o presidente do Colégio Automóvel da Câmara Nacional de Peritos Reguladores (CNPR), Rui de Almeida. Segundo o dirigente, os carros que são roubados em Portugal “têm como destino o mercado interno”, principalmente para “desmantelamento e, possivelmente em menor escala, para viciação e revenda“, a Europa de Leste, para onde vão “geralmente veículos inteiros, sobretudo alemães de gama média-alta e alta”, e África, para onde vão “por norma veículos inteiros, com relevo para as carrinhas e os todo-o-terreno”.
Rui de Almeida refere que algumas marcas “têm desenvolvido algoritmos mais difíceis de contornar”, mas que os sistemas de proteção de outras “são tão frágeis que o furto pode ser consumado em menos de um minuto”. Veículos mais antigos, diz o presidente da CNPR, são mais vulneráveis porque “não podem ser reprogramados”.
O número de furtos de viaturas tem permanecido estável nos últimos anos, mas cada vez se recuperam menos. Nos últimos cinco anos, a PSP e a GNR registaram 59.042 viaturas roubadas, das quais apenas se conseguiram recuperar 19.603. O ano passado só foram recuperadas, até outubro, 2.987 das 8.693 viaturas que foram roubadas. A região do país onde ocorrem mais furtos é no Porto, tendo-se registado 15.424 roubos nos últimos cinco anos. Em segundo lugar está Lisboa, com 15.009, seguida de Setúbal, com 5.941.
A diminuição dos números de recuperação indica que cada vez mais as viaturas roubadas são vendidas em peças, ou então comercializadas em stands de automóveis após a falsificação de documentação e números de chassis.
Para dificultar o roubo de viaturas, o presidente da CNPR aconselha a montagem de um sistema de corte de energia que seja difícil de detetar, para que o ladrão perca tempo a procurar “o motivo do não funcionamento do dispositivo descodificador” e assim aumente o risco de ser apanhado enquanto está a realizar o assalto.